Electrólise Percutânea Intratecidular nas lesões dos tecidos moles


A técnica Eletrólise Percutânea Intratecidular - EPI® foi criada pelo Dr. José Manuel Sánchez-Ibáñez há 20 anos e consiste na aplicação de um fluxo elétrico, através de um dispositivo especialmente desenhado e criado pelo mesmo que, através de uma agulha conectada a um manípulo, permite a passagem da corrente elétrica diretamente na região específica afetada, tanto em tendinopatias como em outras lesões de tecidos moles de grande prevalência e incidência na vertente desportiva e laboral. 


O principal objetivo da EPI® é produzir alterações na configuração molecular da matriz extracelular (MEC), em especial na região específica do tecido degenerado, para otimizar os mecanismos de cura que, por razões fisiopatológicas, encontram-se afetados, como é o caso das tendinopatias crónicas. A aplicação da EPI® em tecido conectivo degenerado produz uma série de acontecimentos neuroquímicos em tempo real. 


Se tivermos em conta os achados histopatológicos nas tendinopatias, onde coexiste uma resposta celular inflamatória crónica associada a um processo degenerativo, com formação de tecido fibrótico e degeneração mixóide da substância fundamental e, portanto, diminuição da mobilidade dos fluidos na matriz extracelular (MEC), a abordagem terapêutica deve focar-se em reverter esta situação de elevada complexidade fisiopatológica. Diante deste padrão fisiopatológico ou destas barreiras fisiopatológicas que impedem a cura, o tratamento com a EPI® vai conseguir otimizar e restabelecer os mecanismos de cura, mediante mudanças na configuração proteica e na degeneração mixóide da substância fundamental da matriz extracelular e, desta forma, reduzir a expressão redundante de citocinas pró-inflamatórias, aspetos moleculares demonstrados cientificamente com a EPI® em diferentes estudos publicados. 


O cálculo da dose ótima de aplicação da EPI® é um princípio fundamental para conseguir este efeito anti-inflamatório e pró-regenerativo nas tendinopatias e lesões de tecidos moles, isto foi demonstrado em diferentes estudos científicos publicados e, por esse motivo, desenvolveu-se o dispositivo exclusivo EPI-ALPHA único para realizar tratamento com a técnica EPI®. Depois de cada intervenção de EPI®, é fundamental educar o paciente a manter-se num sector ótimo de carga funcional, evitando qualquer atividade desportiva que provoque dor ou uma isquemia mantida no tecido danificado que influenciará negativamente o seu processo de recuperação. 


Um estudo recente realizado pelo Dr. José Manuel Sánchez e a Dra. Soraya Valle na Faculdade de Medicina da Universidade de Valência, demonstrou os mecanismos moleculares implicados na regeneração do tendão produzido pela EPI®, em tendinopatias rotulianas em ratos. O estudo foi realizado com ratas fêmeas Sprague Dawley, de 7 meses de idade e 300 gramas de peso. A tendinose patelar foi induzida por injeção direta no tendão patelar de 50 microgramas de colagenase tipo 1. A análise molecular realizou-se com Wertern Blot 7 dias após a intervenção. Os resultados obtidos foram significativos nos mecanismos ativadores da regeneração do tendão rotuliano com o aumento das proteínas anti-inflamatórias, como a PPAR-Y reduzindo a expressão das citocinas, especialmente as interleucinas 1(IL-1) e a interleucina 6 (IL-6), com efeito anti-inflamatório. A EPI® demonstrou que houve mudanças significativas na substância mixóide degenerativa facilitando a migração das células inflamatórias (neutrófilos e macrófagos), da área intervencionada. 


Temos observado como os macrófagos têm um papel essencial no processo de reparação do tecido, eles não só fagocitam, como promovem a migração dos fibroblastos, libertando fatores de crescimento, facilitando assim a síntese de colagénio. Sabemos também que o pico máximo da resposta inflamatória induzida pela EPI® nas tendinopatias corresponde ao quinto dia após a intervenção, e aos 15 dias poderíamos assegurar que não existirá infiltrado celular inflamatório na zona da intervenção. A vasodilatação provocada pela EPI® favorece a diapedese e, portanto, a migração dos neutrófilos e dos macrófagos. Na zona distal da agulha produz-se um efeito que condiciona a transformação do material degenerado da substância mixóide no seu estado gel, otimizando o intercâmbio metabólico necessário para uma correta atividade anabólica. Esta ação proporcionada pelo dispositivo da EPI-ALPHA induz a ativação fagocítica necessária para a recaptação dos catabólitos. A alcalinização do PH produzida pelo aparelho EPI-ALPHA aumenta a pressão de oxigénio (PO2) necessária para a normalização do processo de recuperação do tendão. Igualmente, o efeito de polaridade permite a evacuação e eliminação dos neurotransmissores excitatórios. Todos estes resultados foram publicados em diferentes estudos e atualmente estamos a ampliar a nossa investigação. 


Depois de definirmos as diferentes áreas onde iremos atuar, verificamos o efeito liófilo no tecido, quando a agulha não encontra resistência viscoelástica na região do tendão onde se está a realizar o tratamento. Um aspeto importante na segurança da técnica é a possibilidade de visualizar a agulha através de controlo ecográfico. A imagem hiperecogénica bem delimitada gerada durante a aplicação da EPI® é uma consequência da densidade do gás hidrogénio produzido na reação eletroquímica. Estudos recentes demonstraram a eficácia da EPI® na redução da neovascularização e da dor nas tendinopatias rotulianas. Há que destacar a grande importância que tem o controlo ecográfico no tratamento das tendinopatias mediante a técnica EPI® para evitar qualquer efeito iatrogénico, como seria a lesão de nervos ou vasos. A evolução ecográfica com Color Doppler permitiu estudar o fluxo sanguíneo nas tendinopatias e realizar uma classificação clínica segura da presença ou não de hipervascularização. A ecografia em tendões patológicos permite identificar mediante Color Doppler a direção e velocidade do fluxo nas tendinoses hipervasculares ou neovasculares. A técnica não permite o registo do fluxo sanguíneo num tendão normal porque a taxa de fluxo sanguíneo é muito baixa. Só as taxas elevadas podem ser registadas, podendo identificar se é uma tendinopatia hipovascular e/ou neoneurovascular, sendo um indicador significativo no tratamento e prognóstico das tendinopatias. 


De uma visão clínica, nem todos os pacientes tem a mesma sintomatologia no processo de degeneração do tendão, assim, teremos pacientes com tendinopatias hipovasculares e pacientes com tendinopatias neoneurovasculares, sendo estes achados fundamentais para determinar a dose adequada da técnica EPI®. 


As tendinopatias caracterizam-se pela presença de dor, que pode ser devido a uma crise energética nos mecanismos reguladores do metabolismo no tendão (aumento do lactato, HIF-1), produzida por uma isquemia local com aumento dos radicais livres e dos neurotransmissores excitatórios nociceptivos, sensibilizando os troncos nervosos capazes de manter a hiperalgesia secundária. Por outro lado, podemos encontrar pacientes com tendinopatias assintomáticas, sendo nestes casos o risco de rutura espontânea do tendão maior. A outra categoria das tendinopatias faz referência às tendinoses hipervasculares, podendo encontrar pacientes com tendinoses assintomáticas que, apesar de em alguns casos apresentarem maior degradação do tendão, não apresentam qualquer tipo de dor. A evidência científica não pode explicar estas diferenças anatomopatológicas, possivelmente a densidade do colagénio na localização da hipervascularização poderia ser uma explicação plausível para estas diferenças clínicas. Os pacientes com tendinoses hipervasculares sintomáticas caracterizam-se por apresentarem uma alodinia, isto é, um estímulo mecânico banal é capaz de produzir uma hiperalgesia. Este fenómeno pode ser explicado por uma inflamação neurovascular a nível da neocapilarização, com apresentação edematosa dos capilares e sobre expressão de neurotransmissores e neuropéptidos nociceptivos como o glutamato e a substância P. A sensibilização pode ser explicada pelo acumular permanente de glutamato na região sináptica dando lugar a um aumento dos recetores NMDA-R nas sinapses nervosas. 


A técnica EPI® tem sido desenvolvida principalmente para tratar o foco específico da lesão estrutural. Pode ser aplicada nas tendinopatias extrasinoviais, extrasinoviais com compressão e tendinopatias intrasinoviais. Igualmente, foi demonstrando cientificamente os excelentes resultados da técnica EPI® nas lesões musculares.


Autor: Dr. José Manuel Sánchez